ESTADO NOVO: PROPAGANDA POLÍTICA E CONVENCIMENTO NOS JORNAIS DE MATO GROSSO

ESTADO NOVO: PROPAGANDA POLÍTICA E CONVENCIMENTO NOS JORNAIS DE MATO GROSSO

Jucineide Moreira de Souza PEREIRA [1]

Resumo: A integração nacional como meta governamental, o uso de mídias e a preocupação constante com a comunicação, não é uma novidade sobre o Governo Vargas. Buscamos refletir sobre os meios que foram utilizados para conseguir manter aceso o ideário político do período, em uma região, geograficamente distante, com entraves de acesso e de comunicação devido as limitações infra-estruturais do período. Identificamos junto às leituras e comparações documentais a diretriz doutrinária da política de convencimento e seus métodos mais comuns: manchetes chamativas e de apelo emocional, visando a manutenção de uma situação emotiva do público eleitor em prol das decisões do executivo.

Palavras Chaves: Propaganda – comunismo – política

Abstract: The national integration as governmental goal, the use of medias and the constant concern with the communication, are not a newness on the Government Vargas. We search to reflect on the ways that had been used to obtain to keep lighted the ideal politician of the period, in a region, geographically distant, with impediments of access and communication due the limitations infrastructures of the period. We identify next to the readings and documentary comparisons the doctrinal line of direction of the persuation politics and its more common methods: manchetes showy and of I appeal emotional, aiming at the maintenance of a emotional situation of the public voter in favor of the decisions of the executive.

Words Keys: Propaganda – communism – politic

 

Propaganda política e persuasão  

Os princípios doutrinários do Estado Novo estão muito próximos dos praticados pelos regimes totalitários na Europa como o nazismo e o fascismo. Esta proximidade não significa, entretanto, cópia ou transmutação fiel aqui das normas e doutrinas totalitárias externas. Há especificidades  que devem ser consideradas ao examinarmos esse período impar da história do Brasil Republicano. Não podemos ignorar as proximidades doutrinárias  e as ações aplicadas no país pelo Governo de Getúlio Vargas.  Sobre isso Lippi Oliveira nos diz:

Sua ideologia política recupera práticas autoritárias que pertencem a tradição brasileira, assim como incorpora outras mais modernas, que fazem da propaganda e da Educação instrumentos de adaptação do homem à nova realidade social.”(OLIVEIRA, 1982:10)

É assim que vemos toda uma preocupação publicitária e de controle no país, visando a manutenção de um ideário único e   no caso específico, observamos  esta ação política repetida e adequada a uma região, no caso o antigo Estado de Mato Grosso[2].

Nesta construção ideológica dicotômica, o outro é transformado em  inimigo. Este inimigo quase sempre é interno, como no caso dos comunistas, traidores da Pátria ou externo como no momento em que o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) passa a ser a representação do Mal. Tal situação é facilmente   comprovada nos jornais à medida que vemos ao agravar-se a situação externa e configurar-se o quadro de entrada no conflito mundial o ataque aos comunistas perde  espaço nas publicações pois há agora um inimigo externo a combater.

Para muitos e consideramos também um ponto favorável ao governo Vargas, a nacionalidade brasileira foi instituída em seu governo,  por meio de ações diversas, desde a centralização político administrativa à obra  educativa  definida a partir daí.  Esta ação unificadora e também educativa, têm sido alvo de inúmeros estudos, entre os quais  o de Bertolini[3], autor que discute a Formação cívica da nação enquanto prática educativa, normatizadora de consciências.

A elaboração sistemática de uma idéia de nação é um mérito do governo Vargas e a dimensão  ideológica tem extrema importância neste projeto político do Estado Novo. Definem-se o papel a que cabe a sociedade civil exercer de  forma a tornar o Brasil um Estado coeso, integrado e passivo. Além do mais, é na dimensão ideológica que busca-se legitimar a ditadura como necessária e benéfica.

A legitimidade do governo será implantada e garantida por vários meios além do simbólico. A coerção e a repressão foram inúmeras vezes utilizadas, através das  notícias de jornais. No projeto político Estado-novista então, a propaganda  ideológica tem papel importantíssimo de integração, legitimidade e controle das massas. Esta representação simbólica de poder, necessitava ser forjada ou mantida conforme a situação, por meio da propaganda.

Com o objetivo de centralizar e coordenar a propaganda nacional, foi criado em dezembro de 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda, com filiais nos  Estados – (Deips). O discurso estado-novista alcança todos os meios de comunicação disponíveis sendo por eles veiculados.

Assim, dentre os vários periódicos encontrados e  preservados tanto no Arquivo Público como em outros órgãos afins em Mato Grosso, foi  possível perceber a adequação, a adaptação e opção pela  diretriz nacional, no que se refere à persuasão enquanto forma de convencimento e controle das massas, mantidas sempre em alerta, sempre em ponto de ataque aos inimigos da nação, sejam estes os liberais da Velha República, os constitucionalistas, os Integralistas depois de um certo tempo e sobretudo os Comunistas, os maiores inimigos da Pátria.

Um rápido olhar sobre a  trajetória inicial da Imprensa mato-grossense  até o Estado Novo.

A imprensa mato-grossense nasceu sob o signo do oficialismo, o que não é nenhuma novidade ao estabelecermos  comparação com outras imprensas regionais ou mesmo, a própria Imprensa Nacional, cujo primeiro periódico nasceu para atender as necessidades de informação da Corte, estando sob o controle estatal, por meio de leis e de  funcionários reais. [4]

Assim à 14 de agosto de 1839, circula na Província o “Themis Mattogrossense”, pertencente a Assembléia Legislativa,  do qual infelizmente não se tem registros documentais preservados, mas que foi adquirido por meio de uma subscrição pública encabeçada pelo presidente da Província, José Antônio Pimenta Bueno.[5]

A trajetória dessa imprensa regional  nem sempre foi contínua, enfrentou vários percalços e mesmo  este órgão não conseguiu manter sua periodicidade e foi alvo das disputas políticas locais em vários momentos.[6] No entanto muitos viajantes deixaram registros de uma imprensa numerosa, considerando principalmente as dificuldades técnicas e a distância geográfica da antiga Província.

Esta  imprensa  regional traz características semelhantes às encontradas nos diversos periódicos  do Brasil Imperial, tais como: Linguajar virulento, poemas e poesias intercalando notícias, um tipo de propaganda característico – mais da loja que do produto e principalmente o fato destes periódicos pertencerem a grupos políticos ou à entidades  diversas. Ou seja, muitos periódicos eram criados já com o intento de defender  certas posições ou causas políticas.

De modo que o ao principiar do século XX, Mato Grosso possui inúmeros periódicos de posições e grupos diferentes embora apresentem certas semelhanças quanto ao formato material e a apresentação das notícias.

A movimentação política dos anos 30, conhecida como Estado Novo, ao adotar uma posição/uma diretriz  política das quais os meios de comunicação são parte essencial na persuasão e controle das massas, encontram em Mato Grosso, uma imprensa escrita, já existente, embora ainda carente de outras formas de comunicação, como o telefone que só chegará à capital para comunicação externa no ano de 1950.

Mas, a população, apesar das dificuldades  tem acesso à outras formas de informação, o que possibilita situações inusitadas, senão insólitas como podemos perceber em dois momentos importantes da política nacional: 1)  a notícia de Proclamação da República  só chega ao Estado em  dezembro;  2)  Da mesma forma em 1930 o primeiro a ser informado sobre o  movimento revolucionário(golpista), não são os administradores. Na  verdade é  o  radioamador Deodato Gomes Monteiro quem  capta a notícia da ascensão de Vargas e comunica aos que passam por sua janela, sendo por isso chamado de  “boateiro” e  levado à prisão  temporariamente por  incitar a desordem política.[7]

O CONVENCIMENTO  EM AÇÃO

Então os meios de informação existiam, bastando serem adequados ou monitorados à nova ordem política. Esta  ação  efetuada nos Estados pelos respectivos Departamentos Estaduais de Imprensa e Propaganda – Deips, vinculados ao órgão nacional. Além da censura a que estavam submetidos e  à distribuição de notícias pela agencia Oficial, havia na região um fato curioso: era mais rápido captar as notícias pelo rádio e transcrevê-las nos jornais. De modo que, se o rádio já passou por censura, logicamente a notícia já está “embalada” e manipulada quando chega até os jornalistas regionais.

Dumenach,[8] em obra  basilar, desvenda os mecanismos de funcionamento da propaganda política alemã: as bases e as formas estabelecidas para garantir sua eficácia. Estas formas utilizadas com o fim de garantir a persuasão das massas, não eram novidades na propaganda, mas foram aí, neste momento, sistematizadas por Goebells e Hitler a fim de  produzirem unanimidade.

A unanimidade em torno de uma temática é o objetivo   derradeiro  e para tanto utiliza-se de vários métodos, tais como,  desfiles, associações juvenis, símbolos, músicas, cinema, controle da informação e outros. Em relação à informação, um meio até hoje utilizado refere-se à forma como a notícia ou o fato chega ao público: As notícias vêem sempre  acompanhadas de juízos de valores, trazendo  julgamentos e valores a serem fixados, a serem incorporados como unanimidade e como um credo.

Assim tem início, todo um combate em que a vitória final é o convencimento das massas. Estabelece-se  um corpo teórico a ser defendido, (que nem sempre precisa ter coerência) e inicia-se a propaganda, opondo às massas umas às outras. Ou seja:  “nós e eles”; ou ainda, “nós e os outros”.

Os outros são os  que não agem como nós, são os que não possuem a nossa fé, não compartilham de nossas crendices, nem de nossa forma de enxergar o mundo, sendo portanto diferentes. Daí, por  conseguinte, são nossos opostos, nossos inimigos e  devem ser destruídos.[9]

Esta propaganda, cuja uma das características é a repetição constante, também estabelece associações mentais, que fazem parecer viva a ameaça. A Ameaça de destruição de nosso mundo e de nossos valores é permanente, mantendo então todos sempre em alerta, sempre prontos a delatar o inimigo, seja ele nosso parente ou vizinho e a seguir o líder, que quer o bem da pátria. Na construção deste estado de aceitação, submissão e de terror a propaganda política exerce seu papel.

A Propaganda política  a comunicação  encetada pelo  Regime, segue basicamente algumas leis[10],  notadas no caso alemão e facilmente verificáveis na propaganda  brasileira da época:

A)Lei da simplificação e do inimigo único;

B)Lei da ampliação e desfiguração

C) Lei da orquestração (repetição em todos os meios ao mesmo tempo)

D)Lei da Unanimidade e do contágio.

A partir  dessas bases teóricas  foi colocada em prática tanto no Estado de Mato Grosso, quanto no país uma série de medidas que compunham o ideário estado-novista. Mas, o que  causa estranheza, é  a presença efetiva desta propaganda em um Estado, naquele momento distante geograficamente e de pouca expressividade política, fossemos considerar  seu eleitorado e ou grandes lideranças, que com poucas exceções permanecem à margem do cenário político nacional. Ao afirmarmos isto, não estamos esquecendo da origem  de Filinto Müller, o Chefe de Polícia de Vargas, homem forte do regime.

Mas,  como podemos observar abaixo vemos também aqui a repetição do  quadro peculiar que compunha a orientação simbólica do regime  como podemos comprovar por meio de algumas manchetes selecionadas e da observação um pouco mais acurada de um destes artigos.  Vejamos:

O COMMUNISMO E OS MEIOS DE COMBATÊ-LO[11]

UM LEVANTE DE VULTOSAS PROPORÇÕES ESTAVA SENDO PREPARADO NA BAHIA [12]

NOVO SURTO COMUNISTA ABAFADO COM VIOLÊNCIA [13]

O CHEFE DE POLÍCIA   E A REPRESSÃO  AO  COMUNISMO[14]

AÇÃO CRIMINOSA DO KORMITEIN NO BRASIL[15]

COMMUNISMO E RELIGIÃO, MUDANÇA DE TÁTICA

“O PERIGO COMUNISTA”- 27 de janeiro de 1935

“EGREJA E ESTADO “ 24/03/1935

PROBLEMA DO COMUNISMO – 9 de julho de 1935

NOVOS PROCESSOS DE GOVERNO – 19 de janeiro de 1936 ( aplausos à repressão

O COMUNISMO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS  – 9 de Agosto de 1936

OS DEZ MANDAMENTOS DOS COMUNISTAS[16]

INIMIGOS DA PÁTRIA E DO REGIME, OS COMUNISTAS TRAMAVAM NA SOMBRA, NUMA CAMPANHA INGRATA[17]

A escolha deste jornais também se deu por ter circulado durante grande parte da ditadura. Segundo Rubens de Mendonça os jornais que circularam durante a ditadura foram: O ESTADO DE MATO GROSSO, A CRUZ, A PENA EVANGÉLICA, O OPERÁRIO.

Os exemplos são vários e encontrados nos mais diversos periódicos do Estado, tanto nas cidades de Campo Grande, Poconé, Santo Antonio do Leverger,  Guiratinga,  Cáceres e outras. Mas a fim de clarificar os argumentos até aqui levantados seguiremos a uma rápida analise do primeiro apontado:  “O Communismo e os meios de combatê-lo”.

O COMMUNISMO E MEIOS DE COMBATÊ-LO

A)    Descrição física do jornal e da reportagem

A reportagem foi publicada no Jornal católico A Cruz,  Esta notícia é na verdade a transcrição de um discurso ,de Alceu Amoroso Lima, líder da ação Cathólica. Ao lado da matéria  traz também um poema a um soldado assinado por uma senhora de Cuiabá (Arlinda Pessoa Morbeck), e ainda.

O periódico  A  cruz era mantido além das assinaturas, pelo expediente de doação como se pode notar pela nota  também no dia 9 de jan de 1938 :

V.S. é devoto do Bom Jesus?  Tem sido por Elle beneficiado?  Deve, pois, auxiliar o seu jornal “A Cruz”.

A Cruz, fundada por Frei ambrósio Daydé, (franciscano)órgão da Liga Bom Jesus de Cuiabá, depois transformada em Liga Bom Jesus, (sua sede era no Seminário da Conceição) inicialmente era quinzenal , depois semanal, impresso em maquina Marinoni . Desde 1925, passou a ser dirigida pelo desembargador José de Mesquita- Presidente da Academia Matogrossense de Letras, membro dos Institutos Históricos de Mato Grosso e Brasileiro, poeta, jornalista, romancista.

Segundo Rubens de Mendonça: “Durante toda a sua existência tem “A CRUZ” se empenhado em várias campanhas religiosas e cívicas.”(MENDONÇA, 1951:50)

A transcrição de um discurso, mostra o  tipo de reportagem encontrada em vários jornais do período:

O communismo, como todo movimento que agita grandes paixões e se baseia numa systtematização total do mundo, é por sua natureza imperialista. Sempre o foi na mente de Marx, como o foi na táctica de Lenine. Este orientou seu governo no sentido da Revolução universal.E só depois que as topas do Exército Vermelho foram batidas nas imediações de Varsóvia é que se voltou para as tarefas mais immediatas de defesa e de organizações internas. Nesse sentido nacional e não universal é que Stalin tem apparentemente orientado o seu governo. Com isso, tem iludido a muitos que julgam o communismo um movimento de interesse meramente russo e que não tem ambiente fora da Rússia e muito menos no Brasil.

Segue comentando que para Marx a Rússia ainda meio feudal não era o local propício para a implantação do Comunismo, mas é lá que a 20 anos vem se tentando implantar por isso o Brasil, não pode se considerar livre desse risco:

“Mas o comunismo sabe que um ambiente propício se cria com certo esforço. E como é por natureza cosmopolita e imperialista tem e terá sempre as vistas voltadas para este campo ideal de expansão, que seria o vasto território brasileiro. Tanto mais quanto o nome é coisa sempre secundária e há muitos meios de se fazer communismo sem empregar o nome de comunismo.

                                      (…)

“ Nós cathólicos  bem sabemos e todos os homens de bom senso devem comprehendel-o, que contra a concepção communista, isto é materialista e athéa do do mundo, só pôde prevalecer a concepção catholica do universo, que é espiritual e theocentrica. Tudo mais é medíocre e parcial. E contra a mystica proletária de uma civilização techica, mecânica e inhumana – opponhamos a mystica christã de uma civilização nacional, orgânica e humanista.” 

Há ainda neste mesmo jornal um artigo intitulado: A Imprensa e Ordem, de Paulo damasco Copryght da Cruzada da Boa Imprensa.

Neste artigo, fala dos maus jornais, que se vendem e da impossibilidade por meios cristão de separar o joio do trigo, os bons e maus jornais e contraditoriamente diz- pregando talvez a ignorância:

“O povo precisa convencer-se de que seu maior inimigo, o inimigo número um da ordem pública, da paz social e da estabilidade das sagradas instituições nacionais é o jornal. É esse grande número de jornais, revistas e demais periódicos, que exploram os sentimentos baixos do individuo que desfiguram os acontecimentos com tendenciosos argumentos e comentários ardilosos, que elogiam os maus e que fazem pouco caso ou mesmo nenhum caso dos bons.

“A infiltração das doutrinas subversivas, materialistas, atéias, que atentam contra a dignidade da pátria e contra a liberdade da pessoa humana é toda conduzida por meio da imprensa, por meio desses órgãos, vistosos e profusamente ilustrados.”[18]

A repressão pela força era feita e conhecida; Mas prega se outras formas de convencimento; Por exemplo,  mais sutis como a imprensa e a educação. Para convencer usa trechos do próprio Lênin – para assustar os católicos – palavras isoladas podem ser facilmente manipuladas:

O  MEDO  COMO  ARMA

A exploração do medo pequeno-burguês   do comunismo é um recurso constantemente  utilizado  por parte de defensores de soluções anti-democráticas de governo. O uso deste eterno medo, constantemente reelaborado esteve presente em vários momentos da história mundial, sendo até hoje reinventado.

“A propaganda anticomunista constitui uma arma privilegiada no arsenal da ultra-direita. Foi usada com êxito em todas as partes do mundo, desde o Chile à Alemanha. O seu objectivo consiste em explorar os medos da classe média e dos sectores mais atrasados da população para os manipular politicamente a favor de soluções anti-democráticas.[19]

O  medo, o temor usado como forma de controle, não é algo novo, da mesma forma que os medos, ou o objeto ameaçador a ser usado contra determinada população  nem sempre é o mesmo, sofre transformações e adaptações, de forma a engajar-se, ou melhor,  o medo tem que adequar-se as condições mentais desta população, buscando raízes na sua forma de pensar.

Assim, por exemplo no Brasil, o temor do judeu, como já foi lembrado por vários estudiosos, foi possível ser manipulado, por causa da tradição cristã, que traz em sua concepção, uma visão desagradável destes, considerados traidores e assassínos de Cristo. Assim num país, tradicionalmente cristão é relativamente fácil, aperfeiçoar este ataque, pois a matriz cultural deste preconceito, já está impresa.

A manipulação do medo é feita de diferentes formas, Sejas ataques mais diretos, mais sutis, ridicularização, propagandas diversas e outras. Mas o fim, nem sempre é lícito e  quase sempre, esse avançar sobre o imaginário e os medos coletivos atendem a fins que se revelam senão  criminosos, no mínimo desonestos  e possiblitadores  de situações de violencia sobre os directos civis, ou seja, são quase sempre ataques anti-democráticos.

 Por que esta preocupação constante com o controle da informação, com a preocupação em ganhar uma guerra pelo convencimento em todo o país e até mesmo em Mato Grosso na década de 30 do século passado? Tendo com base a primeira premissa básica da informação, que é a construção da unanimidade, esta atitude faz sentido. Tratava-se se de unificar o pensamento, manter a unidade não só territorial, do imenso país, mas controlar reações, evitando dissonâncias de quaisquer tipos. E se  Mato Grosso, não é um grande colégio eleitoral, ou um dinâmico centro industrial, geograficamente é  região fronteiriça. Não podemos nos esquecer, que num momento de preocupação coma unidade, com o controle de informação no país, Mato Grosso, exatamente por sua situação de distância e de fronteira internacional poderia significar um risco, um flanco aberto, na guerra política travada.  Esta é ainda uma premissa inicial, fruto de pesquisas iniciais, mas a consideramos passível de veracidade e coerência, devido a situação e posturas adotadas em relação ao Estado.

Notamos, a preferência nos jornais cuiabanos do período por notícias, que favoreçam esse ideário de ordem, defesa de valores éticos, de preservação da família, mesmo que,  de forma inocente todos estes valores estão lá, seja, na forma, de boas vindas aos estudantes, que vem passar as férias com a família – subtendido está: rapazes sérios, estudantes e que amam e respeitam as suas famílias, daí passarem todas as suas férias, na cidade natal com a família.

Segundo NEGRÃO (2005:16),  as  formas de combate ao inimigo “vermelho”, no período citado,  eram a  repressão,  censura e a contra- propaganda política. O movimento comunista  embora não sendo o único inimigo da unidade nacional varguista era o que,  em suas próprias características trazia o perfil  apontado como o  desarticulador da paz, destruidor da harmonia nacional, tendo como elementos de ação a rebelião e o desejo de entregar o  país ao domínio estrangeiro.  Assim é classificado por GIRARDET como um complô e  o medo dos complôs sempre foi um componente do imaginário habilmente explorado pelos governantes e também  discutido no âmbito científico.

Referências Bibliográficas:

BERTOLINI, Carlos. Encenações Patrióticas: a educação à serviço do Estado Novo (1937-1945).Mestrado em   Educação. UFMT.2000.

 DUMENACH. Jean Marie. A  Propaganda Política. Site Livros Grátis.

DUTRA, Eliana de Freitas. O ardil totalitário: imaginário político no Brasil dos anos 30, ou a dupla face na construção do estado Novo. Tese de doutorado. Mimeo, Dpto FFLCH,1990.

GIRARDET, Raul. Mitos e mitologia políticas.São Paulo. Editora Cia das Letras, 1987.

MENDONÇA, Rubens de. História do Jornalismo em Mato Grosso.Separata da Revista do Arquivo nº CXLII. Departamento de Cultura. São Paulo. 1951.

NEGRÃO,  João Henrique Botteri. Selvagens e incendiários: O discurso anticomunista e as imagens da guerra civil espanhola. São Paulo: vccHumanitas/Fapesp, 2005.

SILVA, Antonio Carlos. Vozes do Oeste: a radiodifusão cuiabana, entre a antena e a lei (1939-1949).Cuiabá/MT. Agosto. 2004. Dissertação de mestrado. UFMT.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil.4ªed. Rio de Janeiro.Mauad.1999.

Fontes:

Jornais: A CRUZ,   TRIBUNA,    JORNAL  DO   COMÉRCIO,  O GARIMPEIRO,  O MUNICÍPIO DE CORUMBÁ,   GAZETA DO COMMERCIO .


[1] Aluna regularmente matriculada do Programa de Mestrado em História da Universidade Federal de Mato Grosso.

[2] Até o ano de 1977, o estado de Mato Grosso correspondia a uma extensa regia geográfica, que corresponde hoje aos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do sul e parte de Rondônia.

[3] Bertolini, Carlos. Encenações Patrióticas: a educação à serviço do Estado Novo (1937-1945).MESTRADO  OU  DOUTORADO  EM  Educação. UFMT.2000.

[4] A Gazeta do Rio de Janeiro, jornal oficial, dirigida por  Frei Tibúrcio José da Rocha, cujo primeiro número circulou a 10 de setembro de 1808.

[5] Mendonça, Rubens de. História do Jornalismo em Mato Grosso. Separata da Revista do Arquivo nº CXLII. Departamento de Cultura. São Paulo. 1951.

[6] Verificar o interessante artigo de SENA: Conflitos e negociações na hegemonia “poconeana” em Mato Grosso (1839-1849).

[7]  Silva, Antônio Carlos. Vozes do Oeste ….

[8] Ver Dumenach, Jean Marie. A propaganda Política.

[9] Eliana Dutra em Ardil totalitário faz considerações importantíssimas a respeito desta construção.

[10] Dumenach. Op. Cit. pas

[11] Jornal, A Cruz, 9 de janeiro de 1938

[12] Ano 1, número 13, 25 de Nov de 1937- Alliancista, Orgam da Aliança matogrossense

[13] ALLIANCISTA, 25 DE Novembro de 1937

[14] Ano III, 25 de julho de 1937  -Orgam da Alliança Mattogrossense  -Chefe de polícia

[15] Jornal  A CRUZ  ,15 de outubro de 1935

[16] Jornal  A CRUZ  ,11 de outubro de 1936.

[17]  O Estado de Mato Grosso, Ano 1, nº 86, 10 de dezembro de 1939

[18] A Imprensa e Ordem, de Paulo damasco Copryght da Cruzada da Boa Imprensa

[19] PONCE, Guillermo Gárcia. Anticomunismo: A exploração do medo pequeño  burguês. http://resistir.info/